sexta-feira, 22 de julho de 2016

O amor tudo restaura e tudo alcança!


Maria Madalena nasceu de uma família muito digna, talvez a mais rica de Israel. Possuindo, desde pequena, uma aparência privilegiada, sua mãe tinha o costume de colocá-la sentada encima de uma almofada na janela, para que todos pudessem admirar sua beleza e seu bom comportamento. As ruas daquela época eram estreitas e os que por ali transitavam viam-na, conversavam um pouco com ela e, encantados, elogiavam tão extraordinária menina. Elogios estes, que serviram para dar início a um processo que a levaria a cometer os piores pecados, porque, “quando a pessoa não sabe se defender dos elogios e restituí-los a Deus, isso produz na alma um estrago tremendo” , pois, o “orgulho leva à impureza” . Foi justamente o que aconteceu com a jovem Maria Madalena.
Com a perda dos pais, deu-se a divisão da vasta herança. Coube a Lázaro — sendo o primogênito — herdar todas as terras e propriedades que possuíam em Jerusalém, assumindo com isso o encargo social e político da família. Marta, por sua vez, ficou em Betânia e viu-se obrigada a administrar as propriedades do irmão. Restou à Maria — por ser a caçula — o castelo que a família possuía em Mágdala, cidade muito mundana da época, devido à sua localização às margens do Mar da Galiléia.
Chegando a idade das paixões que rejeitam todo freio; quando a presença de toda pessoa honesta e séria resulta-lhe pesada” e sendo Maria Madalena “muito adulada e muito bela, circundada de adoradores, desfrutando ao respirar o incenso agradável dos elogios e sobretudo o perfume embriagante do prazer, fugiu da companhia de sua irmã” , aos quinze anos, para estabelecer-se em Mágdala. No entanto, em pouco tempo, “começou a levar uma vida afastada dos Mandamentos da Lei de Deus, tornando-se, assim, uma pecadora” .
Em certo momento chega a Mágdala rumores de estupefação, admiração e entusiasmo pelo grande profeta: Jesus Nazareno. Muito dada a estar de acordo com as notícias de acontecimentos mais recentes, Maria decidiu reunir uma caravana e ir ao encontro daquele, do qual todos comentavam. Quando chegaram ao lugar onde o Divino Mestre se encontrava, Ele “a viu, a olhou e a curou” , e, sobretudo, infundiu em sua alma graças superabundantes, operando assim sua conversão. Abandonando tudo o que tinha e todos os antigos amigos que a levaram ao pecado, seguiu a Nosso Senhor.
Entretanto, após passar um longo período acompanhando a Jesus juntamente com as outras Santas Mulheres, sentiu um desejo de voltar à Mágdala e à sua antiga vida. A pretexto de buscar algumas coisas, embora Marta e as outras insistissem à que não retornasse, ela decidiu ir e lá chegando retomou a sua vida de pecado.
Um dia, estando Nosso Senhor a pregar perto de Cafarnaum, dá-se o reencontro. Aquele Divino Olhar recai sobre Maria, mas desta vez, “esse olhar do Salvador e essa palavra penetrante mudaram seu coração mais dolorido que endurecido. Em seguida, ela seguiu a Jesus e não O deixou mais”.¹


O verdadeiro amor se cifra na vontade e não no sentimento²
 
No entanto, não confundamos amor com sentimento. Este século — para não falar do século passado e de alguns outros anteriores — deturpou a palavra “amor”. A ideia que se tem de amor é de “melosidade”, romantismo, sentimentalismo. Não! Amor é ato de vontade!
Alguém dirá: — Não, mas os sentimentos têm que acompanhar! Se acompanharem, muito bem; se não acompanharem, pouco importa! Por exemplo, estou diante de um prato que considero delicioso: uma travessa de morangos com chantilly. Para mim, chantilly é a delícia das delícias, mas o médico
disse que estou com problema de excesso de colesterol e não posso comer chantilly. Sento-me à mesa e me servem morangos com chantilly. Eu quero comer? Claro, meu apetite é todo feito para comer o chantilly. Quanto eu quero comer de chantilly? Aquela travessa e mais outra ainda, se for possível, pois quero me alimentar do chantilly de acordo com o meu sentimento. No entanto, minha inteligência diz que o médico, fazendo meu exame de sangue e analisando minha saúde, tem razão ao dizer que eu não posso comer. Ora, meus sentimentos estão mergulhados no chantilly, mas minha vontade o rejeita. O fato de ter sentimento pelo chantilly, mas não comê-lo porque minha vontade determina, significa que meu colesterol aumentou? Não. Valeu a minha vontade, minha determinação. Minha vontade qual é? Ter boa saúde. Por quê? Porque quero servir bem a Deus. Portanto, estou entre o estômago, o paladar, e a Lei de Deus, que me diz: “Não coma, porque, se você comer, terá um problema sério de saúde, talvez até morra”. Então, não quero saber. Onde está minha vontade, aí está meu amor. — Ah, mas eu tenho tanta paixão por chantilly! Deixe a sua paixão se derreter pelo chantilly, desde que compreenda perfeitamente que não deve comer. Aí está o amor. Este é o amor verdadeiro: ajudado ou atrapalhado pelos sentimentos, pouco importa! Às vezes, quando o sentimento atrapalha, o amor ainda é maior, dependendo da determinação da vontade. Portanto, amor não é sentimento, amor é vontade. Esse é o amor de Santa Maria Madalena.


Cena da Aparição de Jesus à Santa Maria Madalena - Pintura de Fra Angélico
Milagre de Santa Maria Madalena

Entregar tudo, até o fim, com entusiasmo e fervor
 
Após a Ascensão, ela foi apanhada, por ódio, e, juntamente com os irmãos e mais quatro outros santos, posta num barco e solta em alto-mar para que se afogasse.
No entanto, o barco vai parar em Marselha, onde ela se põe à porta do templo e, com a beleza que possuía, a elegância, o verbo — ela tinha um verbo facílimo —, com o fogo de alma, ela se põe a pregar contra os deuses, porque não vê obstáculo para nada, e converte um bom número de pessoas. Ora, vão ao templo o governador da cidade e a esposa, oferecer um sacrifício ao deus para ver se conseguiam a alegria de ter um filho. Santa Maria Madalena lhes diz, então, que não fizessem isso, explicando que se tratava de um deus falso, dando todas as provas. E manda-os voltar pra casa. Entretanto, os sete que estavam ali, em Marseille, viviam numa situação de penúria tremenda. Naquele frio de Marseille, durante o inverno; muitas vezes, sem ter o que comer. Então, à noite, Santa Maria Madalena aparece para a esposa e a ameaça, dizendo que não era possível os dois viverem num palácio com tanta regalia e deixarem os servos de Deus passando mal.
Três vezes acontece isto, por três noites consecutivas. Como a esposa não se movesse, na quarta vez, Santa Maria Madalena aparece para o esposo e os dois se dão conta de que, de fato, era uma ameaça. Então, combinam entre si um meio de atendê-la. Levam-nos para o palácio e Santa Maria Madalena converte o governador e a esposa de maneira que ambos acabam tendo, por uma intervenção dela, um filho. O governador se arrebata de tal modo pela Religião Católica que resolve fazer uma viagem para conhecer São Pedro. Ele prepara a viagem. Com receio de que o mar o trague, a esposa chora e quase lava os pés do marido com lágrimas, pedindo que ele a deixasse ir junto. Ele não queria, mas acabou cedendo. No caminho, ocorre uma terrível tempestade, em meio à qual a criança nasce. A mulher fica como que morta. Os marinheiros querem jogar o corpo no mar, mas o marido impede, usando sua autoridade de governador. Os marinheiros aportam num canto e deixam a mulher e a criança — que ia morrer também —, e o marido segue para Roma. Quando o marido volta de viagem, depois de ter conhecido a São Pedro e este tê-lo consolado, dizendo que tivesse confiança, ele se encontra não só com a criança, mas também com a esposa. A esposa tinha ressuscitado! Ela, então, lhe conta a respeito de todos os lugares onde ela tinha estado em companhia de Santa Maria Madalena, junto com ele, esposo, e os detalhes coincidem. Ela o havia acompanhado na viagem, mantendo a criança! Os dois voltam para Marseille e aí constroem um ambiente para o desenvolvimento do culto. A história é muito longa e passaríamos um bom tempo falando sobre as
maravilhas todas de Santa Maria Madalena. Em determinado momento, depois de ter convertido quantidades de gentes, ela se retira e fica “camaldulense”, eremita do deserto. Às tantas, um monge constrói uma cela para si, a cento e cinqüenta metros de onde ela estava. Ele se dá conta de que, todos os dias, durante os sete períodos de oração, havia uma luz e alguém que subia ao alto e depois descia, e resolveu ir até esse local. No entanto, algo o impedia de caminhar. Avante ele não podia caminhar, para trás sim. De repente, ele ouve uma voz angélica, vinda daquela distância: era Santa Maria Madalena a dizer que todos os dias ela subia para cantar com os Anjos. Todos os dias convivia com os Anjos do Céu, cantando! E pedia que avisasse a São Martinho que iria em tal dia, a tal hora subir para o Céu definitivamente, que ele estivesse na capela rezando por ela. De fato, em tal dia, a tal hora, a alma dela subiu aos Céus. Foram correndo à gruta onde ela estava e encontraram-na com uma luz e com um perfume extraordinário que durou sete dias. Depois da morte, são milagres e mais milagres! Aí está esta santa do amor, que nos estimula a compreendermos o que nos diz São Paulo: Que sejamos pressionados, mas pressionados como ela o foi, e que entreguemos toda a nossa vida por Nosso Senhor, por Nossa Senhora, pela Causa, pela Santa Igreja, com entusiasmo, com fervor. Com sentimento ou sem sentimento, não importa, mas cheios de determinação de darmos tudo pela glória de Deus!





 ¹Trecho extraído do blog do Instituto Filosófico - Teológico Santa Escolástica, sobre Santa Maria Madalena.
 ²Mons. João Scognamiglio Clá Dias - Homilia de 22/7/2008

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