sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Fazer tudo com espírito sobrenatural!

Quem se dispõe verdadeiramente a seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo, não caminha, mas voa nas vias da virtude. E justamente por isso, faz de sua vida um contínuo sacrifício de louvor, desejando antecipar cada vez mais o dia em que o convívio com a Santíssima Trindade será eterno. A vida dos santos nos dá prova que, independentemente da vocação à qual foram chamados, ao longo de sua caminhada neste vale de lágrimas, não sabem senão falar com Deus ou de Deus para todosSanta Teresinha do Menino Jesus..jpg os que os rodeiam.

Santa Teresinha do Menino Jesus, como mestra de noviças no Carmelo de Lisieux, tinha um profundo zelo pela boa formação de suas subalternas, não perdendo nenhuma ocasião de dar-lhes algum ensinamento por meio de palavras e, principalmente, de exemplos. Certa vez em que a comunidade se ocupava com a lavagem das roupas, tocou o sino que indicava o término das funções e convidava todas à oração.

Porém, como ainda faltasse muito por ser feito, a superiora julgou conveniente prolongar os trabalhos por mais algum tempo. Santa Teresinha, então, observando que uma das noviças trabalhava com especial ardor, aproximou-se dela e perguntou: 

"Que estais fazendo?' ‘Eu lavo', respondeu ela. ‘Está bem, mas interiormente deveis fazer oração; este tempo é do Bom Deus, não temos o direito de tomá-lo".¹

Este fato mostra claramente como uma alma verdadeiramente contemplativa pode, mesmo em meio às atividades mais corriqueiras do dia-a-dia, estar em contínua comunicação com Deus, rendendo-Lhe glória. É o que se passava em grau eminente com a Santíssima Virgem, que ao girar, por exemplo, a maçaneta de uma porta, dava mais glória a Deus do que muitos outros santos no momento de seu martírio.²

Tal vigor de alma não pode ser concebido sem se tomar em consideração a vida sobrenatural. O papel da graça consiste exatamente em iluminar a inteligência, em robustecer a vontade e em temperar a sensibilidade de maneira que se voltem para o bem. De sorte que a alma lucra incomensuravelmente com a vida sobrenatural, que a eleva acima das misérias da natureza decaída, e do próprio nível da natureza humana.³

É o que também se passava inúmeras vezes com outra Santa Teresa, a grande reformadora do Carmelo, que, apesar de suas frequentes viagens e trabalhos relativos à fundação de novos conventos, nutria uma intensa vida interior, que era a alma de todo o seu agir. Um dia, preparava ela deliciosas e frescas panquecas que seriam servidas no almoço do convento. Enquanto as fritava, seus pensamentos se elevaram a tão alto patamar que, de repente, viu-se objeto de um êxtase que a deixou transfigurada e extremamente luminosa. O mais interessante foi que, mesmo durante uma tão intensa comunicação sobrenatural, nenhuma panqueca se queimou. Pelo contrário, acabaram ficando ainda mais perfeitas e suculentas. Esse é um "belo símbolo do equilíbrio entre a contemplação e a ação.

Quem deseja fazer boas ‘panquecas' em matéria de apostolado, reze fervorosamente; se orar, o apostolado dará bons frutos; sem oração, os frutos serão menores ou nulos". 4
Há, porém, da parte de alguns, uma desculpa frequentemente utilizada para deixar de lado o recolhimento: a famosa falta de Dom Chautard.jpgtempo ou o excesso de ocupações, que preenchem os horizontes do homem, sobretudo na sociedade contemporânea.
Conta-se que Dom Chautard, 5 um ilustre monge trapista, autor de "A Alma de todo apostolado", certa vez foi abordado pelo primeiro ministro da França, Benjamin Clemenceau,6 que o indagou a respeito de como conseguia encontrar tempo para fazer tanta coisa. O religioso, com muita simplicidade, respondeu: "Acrescente às minhas ocupações diárias a celebração da Missa, a leitura do breviário, outras tantas práticas de vida de piedade, e então sobra tempo para as demais atividades".7 A resposta impressionou profundamente o primeiro ministro, que não imaginava que o fato de acrescentar atos de piedade aos afazeres diários poderia fazer sobrar mais tempo para estes. Paulo Eduardo Roque Cardoso

É, portanto, um "erro funesto pensar que o espírito prático é o oposto do contemplativo, gerando a falsa ideia de que a piedade de uma pessoa realizadora e dinâmica deve diminuir na proporção de suas obras, e que o tempo por ela dedicado à oração prejudica seus empreendimentos".


Por Ir. Ariane Heringer Tavares, EP (Fonte: www.arautos.org/ espiritualidade)
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1 SANTA TERESA DE LISIEUX. Conselhos e lembranças. 4. ed. Trad. Carmelitas Descalças do Carmelo do Imaculado Coração de Maria e Santa Teresinha. São Paulo: Paulus, 1984, p. 71.
2 Cf. SÃO LUÍS MARIA GRIGNON DE MONTFORT . traité de la vraie dévotion à la Sainte Vierge, n. 222. In: Œuvres Complètes. Paris: Du Seil, 1996, p. 638.
3 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução.5.ed.São Paulo: Retornarei, 2002 p.131.
4 Id. Santa Teresa: alma de rara grandeza. In: Dr. Plinio. São Paulo: ano IX, n. 103, out. 2006, p. 29.
5 Jean-Baptiste Chautard (*1858 - †1935), cisterciense trapista, abade do mosteiro de Sept-Fons (França).
6 Jorge Benjamin Eugênio Clemenceau. Político, escritor e médico francês. (*1841 - †1911).
7 CHAUTARD, Jean-Baptiste apud CORRÊA DE OLIVEIRA. Santa Teresa: alma de rara grandeza. Op.cit. p. 28.
8 CORRÊA DE OLIVEIRA. Santa Teresa: alma de rara grandeza .5.ed.São Paulo: Retornarei, 2002 p. 28.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Santa Beatriz da Silva, Virgem e fundadora das Concepcionistas!

"...no ocaso da vida tudo passa, só Deus fica e o que por Ele tivermos feito".

E foi assim que Beatriz viveu, em uma intensa vida de amor e de entrega total a Deus.


A família
"...educada num profundo espírito e virtudes cristãs."
SANTA BEATRIZ_1.jpgDe nobilíssima família portuguesa, Beatriz da Silva e Menezes, nasceu na graciosa e ensolarada vila alentejana de Campo Maior, no ano de 1437. Filha de D. Rui Gomes da Silva, Alcaide Mor da já mencionada vila de Campo Maior e Ouguela e de Dona Isabel de Menezes, que era filha de D. Pedro de Menezes que foi Governador da Praça de Ceuta, nessa altura pertencente à coroa dos reis de Portugal. Os pais de Beatriz pertenciam à primeira nobreza e estavam ainda aparentados com a família real.

Tiveram 11 filhos, educados por franciscanos, que inculcaram no seu coração um profundo sentido cristão, ético e moral e uma especial amor à IMACULADA.

A Princesa Isabel de Portugal, filha de D. Duarte, contrai núpcias com D. João II de Castela, e leva a sua prima Beatriz como dama. Era Beatriz muito nova e bela e de alma transparente e cristalina. Os ciúmes da Rainha chegaram ao desejo de a fazer desaparecer. Mas os desígnios de Deus são outros, e como do mal pode obter um bem, enquanto esta só e cerrada num cofre esperando a morte, aparece-lhe a Virgem Imaculada, Rainha de Portugal, a anunciar-lhe que seria mãe de muitas filhas e que fundasse uma Ordem dedicada ao serviço e louvor do mistério da sua Conceição Imaculada. Sai da Corte e nos Palácios de Galiana, em Toledo funda a sua Ordem há mais de 500 anos.
Beatriz passou a sua infância e adolescência nesta nobre vila, rodeada do carinho de seus pais que a educaram num profundo espírito e virtudes cristãs. (ler mais...)

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

"Sangue dos mártires, sementes de cristãos." (Tertuliano)



Imagine um "arqui-jardim", onde tudo é exuberante, ordenado e perfeito. Um jardim onde tudo floresce, e tudo encanta.
Este "Arqui-Jardim" é a igreja, na qual vem florescendo a dois milênios, os mais belos frutos e flores, de toda a cristandade. No jardim do Senhor, temos diversidade na unidade. "Não temos apenas as rosas dos mártires, temos também o lírio das virgens, heras dos casados, violetas das viúvas. Absolutamente ninguém, irmãos, seja quem for se desespere de sua vocação, por todos morreu Cristo", diz Santo Agostinho.

A igreja apresenta-nos hoje o dia glorioso de São Lourenço, mártir. Que derramou seu sangue por Cristo, e assim deu testemunho de sua fé. Ele amou a Cristo em sua vida, imitou-o na sua morte.

Martírio de São Lourenço



Conta-nos o martiriológio, que São Lourenço morreu assado numa grelha. Após inúteis tentativas de fazê-lo colocar incenso aos deuses. Colocaram-no vivo na grelha, e depois de alguns minutos de suplício, chama ele por um guarda. Pesando os pagãos que conseguiram dissuadi-lo, o acodem com presteza. Mas...ouvem uma negativa do santo mártir: - "Podeis virar-me pois este lado já está assado!"


Grelha onde foi martirizado São Lourenço

Peçamos a São Lourenço que inflamado de amor a Deus, e que brilhou pela fidelidade no serviço e glória no martírio, que nos conceda amar o que ele amou e praticar o que ensinou. Amém.


terça-feira, 9 de agosto de 2016

Ela era uma "Pietà sem Cristo"

Compreende-se facilmente o desânimo e mesmo o desespero dos infelizes, que arrancados com brutalidade de seus lares eram transportados em vagões de carga para um campo de concentração. Irmã Teresa, porém, não se deixou abater. Nos poucos dias em que ali permaneceu, manteve-se galhardamente trajada com seu hábito de carmelita, a todos impressionando pela sua fortaleza de ânimo, serenidade e recolhimento. Todo o tempo em que a "Freira Alemã", como era chamada, não passava em oração, ela o empregava em consolar os aflitos, confortar as mulheres e cuidar das crianças. Ela era uma "Pietà sem Cristo".

Caros leitores, assim declarou uma testemunha sobrevivente sobre esta religiosa tomada de grande zelo pelas almas e um incondicional amor à Cruz de Cristo.

Quem é ela? Como se converteu ao catolicismo, tornando-se religiosa, trilhando o caminho da santidade e recebendo a coroa do martírio?

Edith Stein, a caçula de uma numerosa família hebraica, nasceu em 12 de outubro de 1891 em Breslau, Alemanha. Antes de completar dois anos ficouEdith Stein - Santa Teresa Benedita da Cruz_.jpg órfã de pai. A pequena Edith era de temperamento forte, vivaz e independente. Ademais, demonstrava uma inteligência muito precoce, que lhe proporcionou o primeiro lugar da classe durante toda a sua vida escolar. Crescendo numa família praticante da religião judaica, ela acreditava em Deus e a Ele dirigia suas preces.

Jovem filósofa à procura da Verdade

Porém, ao atingir a adolescência, perdeu a fé na existência de Deus, parou de rezar e abandonou os estudos. Ela própria relatou mais tarde: "Com plena consciência e por livre decisão, deixei de rezar. Meus anseios de conhecer a Verdade eram minha única oração."
Aos 14 anos, decidiu retomar os estudos colegiais, para ingressar na universidade. E em 1911 matriculou-se, não em um, mas em três cursos: Filosofia, Língua Alemã e História. Naquela época era pouco comum uma mulher cursar a universidade, menos ainda ver uma jovem de 20 anos seguir três cursos ao mesmo tempo!
Todas as preferências de Edith eram para a Filosofia. Assim, mudou-se em 1913 para Göttingen a fim de assistir às aulas de Edmund Husserl, considerado o mais importante filósofo alemão da época.

Essa jovem estudante parecia haver sucumbido de todo na crise da fé, pois até já se declarava atéia. Mas, por paradoxal que pareça, ela continuava como uma incansável peregrina à procura da Verdade.
   
Descobre a oração do Pai-Nosso

E a Divina Providência, por seu lado, a guiava por caminhos misteriosos cada vez para mais perto de Deus, a Verdade Absoluta. (ler mais...)

 

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Arauto do Rosário




As criaturas são um reflexo de seu criador. Ora, na obra da criação podemos em tudo, ver um reflexo de Deus. Peguemos um exemplo do reino mineral, o "diamante". 



O diamante, é um belo reflexo de Deus. Com suas múltiplas facetas, que representa a diversidade e a grandeza dos atributos divinos. Também podemos dizer, que nós homens, sendo feitos à imagem e semelhança de Deus, somos um reflexo, se quiserem uma faceta deste Diamante, Magnífico, Incomparável e Perfeito, Deus.


Somos também uma faceta deste "Diamante"

Cada homem, tem uma missão ímpar na história. Somos chamados a representar a Deus, sob um aspecto, uma qualidade, um dom, que a nenhum outro Ele concedeu.

Os santos corresponderam aos apelos de Deus, e por isso brilham nos céus da história.
São Domingos foi sem dúvida, um facho ardente, que iluminou a humanidade, por sua devoção à Santíssima Virgem e ao santo Rosário. Foi a ele que a própria Nossa Senhora confiou a propagação do santo rosário. Bendito o rosário! Veículo pelo qual inúmeras almas se salvam.  

O mais belo sermão

Certo dia, estando São Domingos na sacristia da Catedral de Notre Dame de Paris, a Virgem Santíssima lhe aparece e lhe pergunta:

Domingos o que tens nas mãos?

- Levo o sermão Senhora - respondeu ele.

Nossa Senhora lhe diz:
-Dá-me pois!

E Nossa Senhora entrega a ele um outro sermão!

E continuou ela:
- Agora vai, e prega sobre o rosário!

São Domingos foi incansável pregador do rosário, poderíamos dizer que ele foi um Arauto do Rosário, que levou a devoção ao rosário e a Nossa Senhora até os mais altos píncaros. Assim sendo sigamos os passos de São Domingos e ouçamos ainda hoje aquela voz, que na terra ressoava como puro cristal:
"Quer ter paz? Reze o terço todos os dias!"

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

A inveja nas Sagradas Escrituras

Nas Sagradas Escrituras, são numerosas as referências sobre o vício da inveja. No livro dos Provérbios, ela é considerada como "a cárie dos ossos" (Prov. 14, 30) e São Paulo a enumera entre os pecados que nos fazem perder o Reino dos céus (Gl, 5, 21).

Foi por inveja que os irmãos de José resolveram vendê-lo como escravo aos egípcios (Gn. 37,11). Também Saul, ao ver que Davi vencera o gigante Golias, encheu-se de inveja contra ele e por diversas vezes tentou matá-lo (I Sam. 18:6-8).
Já São Mateus nos narra que até mesmo Pilatos reconheceu que foi por inveja que os fariseus entregaram Cristo para ser morto: "Estando o povo reunido, perguntou-lhe Pilatos: Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado o Cristo?São Tomás de Aquino.jpgPois sabia que por inveja o haviam entregado"(Mt 27, 18).
Etimologia da palavra "inveja"
Etimologicamente, a palavra "inveja" é composta pelo verbo latino videre (ver) e da partícula in, que indica privação. Desta forma, invidere significa olhar com maus olhos, projetar sobre o outro um olhar malicioso. Daí a origem do famoso trocadilho de Santo Agostinho: "Video, sed non invideo" [1], ou seja, "vejo, mas não invejo."
As definições sobre a natureza da inveja ao longo dos séculos concordam notavelmente entre si. Na tradição aristotélica ela é considerada como uma dor causada pela boa fortuna que goza alguns de nossos semelhantes.
Para São Tomás de Aquino, a inveja se caracteriza por uma "tristeza do bem alheio, enquanto se considera como mal próprio, porque diminui a própria glória ou excelência." [2]
A inveja é também entendida como uma paixão que é ao mesmo tempo filha do orgulho e da malquerença, em que se misturam o ódio e o desgosto provocado pela felicidade de outrem.
É por este motivo que os invejosos estão condenados a sofrer continuamente, pois o ódio provocado pela ira facilmente se apazigua mediante a reparação, mas aquele nascido da inveja não se amansa nem admite reparações. Mais ainda, irrita-se com os benefícios recebidos. Paulo Eduardo Roque Cardoso
Seu âmbito de ação parece não conhecer limites, pois até mesmo no céu ela se fez presente, quando os anjos maus invejaram a glória que Deus havia reservado aos homens.[3] Granada a considera como um dos pecados mais estendidos, pois a inveja a impera em todo o mundo e mora especialmente nas cortes e palácios, nas casas dos senhores e príncipes, nas universidades e cabidos e ainda, nos conventos de religiosos. Seu objetivo e meta é perseguir aos bons e aos que por suas virtudes são altamente apreciados.[4]
Por Diácono Inácio de Araújo Almeida
[1] Santo Agostinho: In Evangelium Ioannis Tractatus 44, 11.
[2] São Tomás de Aquino. Suma Teológica: II-II, q. 36, a. 1.
[3] Caremo, Girolamo. Istruzioni Pratiche intorno ad alcuni Doveri Generali e particulari del Cristiano. 2a ed. Gaetano Motta: Milano, 1822, p. 332.
[4] Granada Luis de. Obras de V. P. M. Fray Luis de Granada. Tomo I. La Publicidad: Madrid, 1848, p.132.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

"A MAIS BELA PROFISSÃO!"



Exortava o Cura de Ars.



"Esta é sem dúvida a mais bela profissão do homem: Rezar e Amar."

"Se rezais e amais, aí esta a felicidade do homem sobre a terra."

Os homens não amam a Deus!


São João Maria Vianney, ao fazer uma viajem de Ars para um pequeno vilarejo com o intuito de fazer uma pregação, ouviu pelo caminho alguns pássaros, que cantavam alegremente. Diante de tal espetáculo, o homem de Deus põe-se a chorar. Ao ser-lhe indagado qual o motivo do choro, responde ele: - "Meu filho vede, Deus fez os pássaros para cantar e isto eles fazem. Porém os homens foram feitos para amar, e  não amam!"

O advogado de Lião

Certo homem incrédulo, esteve em Ars, para satisfazer sua curiosidade e conhecer de uma vez por todas o famoso Cura de Ars, que tanto atraia e arrebatava multidões.
Ao retornar à sua cidade foram ter com ele e lhe perguntaram: Então o que vistes em Ars?
O advogado já transformado de ateu, em crente em Deus, responde:
"Vi Deus em um homem!"

Este santo homem promoveu admiravelmente a vida cristã, através de uma pregação eficaz, com a mortificação, a oração e a caridade.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A PAZ QUE O MUNDO IGNORA

bosque.jpg


 
A paz que o mundo ignora
 Apenas alguns minutos de passeio pelos arredores da Cartuxa da Serra São Bruno bastaram para descobrir que, muitas vezes, o silêncio fala sem precisar de palavras.

Encontrava-se um cartuxo, certa vez, cavando no exterior do seu convento quando, inesperadamente, deparou-se com um vulto. Era o corpo de um monge ali enterrado fazia muito tempo, mas que se conservava incorrupto, como se estivesse vivo, a ponto de haver jorrado sangue fresco dele quando o irmão bateu-lhe com sua pá. Cheio de emoção, o religioso correu para comunicar o milagre ao padre superior, o qual, sem perder a serenidade, lhe disse: "Voltai a fechar a cova".
Tal episódio, que chegou até nós conservando o anonimato de seus protagonistas, bem poderia ter-se dado na Cartuxa onde faleceu seu santo fundador - o Êremo de Santa Maria da Torre, na Calábria -, pois faz parte da regra serem enterrados sem mais caixão do que seu próprio hábito e sem mais epitáfio do que uma cruz.

Esta ordem religiosa, fundada por São Bruno em 15 de agosto de 1084, atravessou os séculos sem sofrer mudança nos seus estatutos: "numquam reformata quia numquam deformata - nunca foi reformada, porque nunca foi deformada".2 Até hoje, seus conventos brilham por uma mesma forma de vida contemplativa, na qual a austeridade da penitência, o silêncio, o trabalho manual e a oração comunitária se fundem, transformando a vida dos seus integrantes num holocausto de agradável perfume que se evola até Deus.


mosteiro - cartuxa.jpg
lagoa da penitência - mosteiro da cartuxa.jpg corredor - claustro.jpg
Vista exterior do prédio do mosteiro, um dos corredores do claustro e lagoa da penitência.
Na página anterior, parque externo do convento
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O local onde São Bruno viveu seus últimos anos encontra-se numa região montanhosa, regada por rios e pequenos lagos. Em certas estações do ano, a neblina e o frio realçam e enaltecem o envolvente mistério do lugar. Dificilmente se encontram no mundo paragens como esta, onde a vontade de voltar o espírito a Deus em oração desponte de maneira tão intensa e profunda. Nos seus jardins há, sem dúvida, uma discreta ação do Espírito Santo, convidando-nos a elevar a mente rumo às montanhas eternas.

Entretanto, longe de destacar-se do resto da Igreja militante, a Cartuxa da Serra de São Bruno, embebida sobremaneira do carisma de seu fundador, rege a vida da cidadezinha que a circunda, visto que, embora radical no seu afastamento do mundo, a ordem impregna com sua sacralidade os que por ela se deixam influenciar.

- É a primeira vez que estais vindo? - perguntou-nos um ­montanhês da região - Pois voltareis, porque São Bruno atrai, ele vos puxa!

E assim foi. Apenas alguns minutos de passeio pelos bosques que circundam o mosteiro bastaram para descobrir quanto pode falar o silêncio sem precisar de palavras e quanto a solidão leva a conviver com o próprio Deus. Neste ambiente pervadido de graças, até o rigor do trabalho e da penitência se dulcifica no contato com o mundo sobrenatural, incomparavelmente superior àquele que apalpamos.

Depois de haver conhecido esta Cartuxa, pudemos compreender melhor as palavras proferidas pelo Divino Mestre: "Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada" (Lc 10, 42)... As almas que se deixam arrebatar pela contemplação "são a mola oculta, o motor que dá impulso, nesta Terra, a tudo ­quanto diz respeito à glória de Deus, ao Reino de seu Filho e ao cumprimento perfeito da vontade divina". 
Uma lápide do museu da Certosa di Santo Stefano, pertencente ao mesmo complexo religioso, resume tudo o que ali se experimenta, numa belíssima frase de São Bruno: "Aqui, pela fadiga do combate, Deus dá aos seus atletas a desejada recompensa, isto é, a paz que o mundo ignora e a alegria no Espírito Santo". (Revista Arautos do Evangelho, Março/2016, n. 171, pp. 50-51, Ir. Lucía Ordóñez Cebolla, EP).