sexta-feira, 21 de abril de 2017

Uma mãe adornada com virtudes muito preciosas

Ao longo de seus noventa e dois anos,
Dona Lucília conservou intacta
sua túnica batismal
Uma das últimas fotografias de Dona Lucília,
tirada por Mons. João Clá Dias, EP,
fundador dos Arautos do Evangelho
Tesouro de qualidades
de Da. Lucília
 A sublimidade maternal 
de Dona Lucília

Era o dia 21 de abril de 1968. Dona Lucília Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira se encontrava no seu leito de dor. Deitada, sem apoio em travesseiros, com os braços estendidos ao longo do corpo, os olhos fechados, tranquila, ela movia somente os lábios: com certeza rezava.

Sentindo em seu coração haver chegado a hora da solene despedida desta vida, com decisão retirou a mão segura pelo médico, e com gesto delicado, mas firme, sem manifestar esforço ou dificuldade, fez um grande e lento sinal-da-cruz. Depois repousou no peito suas mãos alvíssimas, uma sobre a outra, e serenamente expirou, na véspera do dia em que completaria 92 anos . . .

A alegoria da videira, utilizada por Nosso Senhor no Evangelho, deixa patente que um sarmento só subsiste enquanto está ligado ao restante da planta, recebendo a seiva proveniente do caule e das raízes do vegetal; portanto, se esse ramo é arrancado, murcha, seca e morre. Em suma, a vida lhe advém da própria videira (Jo 15, 1-7). Essa figura, que representa nossa total dependência de Deus, não é tão forte como a realidade, também criada por Ele, do vínculo existente entra mãe e filho.

Algumas vezes na história, para preparar um homem com uma missão muito importante, a Providência começa por santificar a mãe. No Antigo Testamento, Ana, mãe de Samuel, depois de suplicar a Deus, alcançou a graça
de ser a mãe do mais jovem profeta de Israel. (I Sm 1).

Ao analisar o período posterior à vinda de Cristo, vemos com frequência homens escolhidos por Deus, em especial os Santos, serem favorecidos por uma origem familiar particularmente abençoada, que os ajuda a abraçar a via da santidade. Vários santos gozaram do privilégio de nascer em verdadeiramente lares católicos como São João Bosco; São João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars; São Luís IX, Rei da França, o rei nascido do Rosário; São Domingos de Gusmão, Santo Agostinho, São João Batista e tantos outros.

Por conseguinte, podemos afirmar com inteira propriedade serem as mães, quando boas, aquelas que mais santificam; porém, quando não, aquelas que mais arruínam.

Não esqueçamos, sobretudo, que o grande Homem providencial por excelência, Nosso Senhor Jesus Cristo, também esteve unido à sua Mãe. Tendo chegado o momento de encarnar-Se, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade preparou com todo o esmero uma extraordinária Mãe, pois Ele queria ter no início de sua vida terrena, como raiz, uma pessoa da categoria d’Ela.

Dona Lucília, modesta, pequena e ignorada,
 foi o berço que flutuou sobre as águas
da Revolução e salvou seu filho Plinio.
Fotografia de Dona Lucília, em Paris
A seguir, serão estampadas algumas considerações de como Dona Lucília, com sua incansável solicitude materna, preparou seus filhos para corresponderem com generosidade à ação santificadora da Igreja de Deus, principalmente sobre o seu filho Plinio Corrêa de Oliveira, mestre do Fundador dos Arautos do Evangelho, Mons. João Clá Dias, EP.

Ela lhes ensinara a compreender e amar a fundamental importância no convívio humano. Quando duas ou mais pessoas têm afinidade entre si, sentem-se mutuamente atraídas por um movimento cheio de benevolência, o qual é a substância da amizade. Esta não será real e autêntica se estiverem ausentes o amor de Deus, a ternura, a afabilidade, a paciência e a compaixão.

É preciso ter conhecido Dona Lucília para avaliar o quanto seu coração estava distante de qualquer ressentimento ou desejo de vingança, nunca tisnou sua bela alma o mais leve movimento de alegria pelo mal ocorrido a alguém. Sua amizade, uma vez concedida, jamais era rompida, e a compaixão para com os sofredores tinha toda a amplitude aconselhada pelo Divino Salvador nos Evangelhos. Assim, foi a suavidade uma das primeiras virtudes que Dona Lucília, de forma modelar, procurou transmitir a quem dela se aproximava.

Outro exemplo perfeito, a se destacar no belo jardim de suas qualidades, era o da intransigência face ao mal, que se manifestava sob as mais variadas formas segundo as circunstâncias. Assim, ao corrigir os filhos por alguma falta, empenhava-se em lhes mostrar a gravidade do ato praticado, salientando o quanto aquilo ofendia a Deus, de modo a incutir-lhes um profundo horror ao pecado.

Dona Lucília exaltava os talentos alheios
e nunca procurava chamar a atenção 
para as qualidades dos filhos
Plinio na sua infância
De outro lado, por sua fidelidade aos princípios católicos, rejeitava o espírito de tolerância que se ia introduzindo na mentalidade de seus contemporâneos. Razão pela qual, estando Dona Lucília presente numa conversa, nunca deixava passar sem reparos alguma crítica à Santa Igreja ou à Religião. Este não transigir face ao mal foi outro tesouro por ela legado a seus tão queridos filhos.

Além disso, Dona Lucília tinha o grande mérito de saber admirar os predicados do próximo, sugerindo a Roseé e a Plinio, pelo inconfundível e atraente exemplo que dava, procederem desse modo. Com frequência, o dinamismo de seu contentamento se voltava todo para a exaltação dos talentos alheios. Em contrapartida, não se comparava com ninguém, nunca se referia a algum elogio que tivesse recebido, nem procurava chamar a atenção, mesmo que indiretamente, para alguma qualidade própria ou de seus filhos.

A reversibilidade no espírito de Dona Lucília era uma de suas notáveis qualidades. Em meio ao inocente júbilo do Natal havia sempre nela um fundo de tristeza, pois via despontar ao longe o drama da Paixão. Em sentido oposto, ao considerar a Morte de Nosso Senhor, algo em sua alma já denotava as alegrias triunfais da Ressurreição.

Dona Lucília representava uma semente dourada e magnífica, cheia de irisações de algo que haveria de bom no futuro. A esse respeito, é ilustrativo um comentário feito por seu filho, Doutor Plinio:

A paciência de Dona Lucília foi a base para que
Doutor Plinio tivesse inteira confiança
em Nossa Senhora
“Ela retivera sobretudo os lados bons do século XIX, que eram as tradições medievais ainda vivas; e sua alma era uma continuação disso. De maneira que eu comecei a amar nela a Idade Média, e muitas vezes pensava; ‘Como é parecida com mamãe’.

“Ela é o hífen, a ponte entre tudo o que houve outrora e o futuro. Ela representava o último pranto do passado, chorando por morrer. E o filho dela, Nossa Senhora destinou para fundar uma família de almas que seria o raiar da Idade Média ressurrecta no Reino de Maria. 

Quer dizer, a palavra hífen diz pouco; é a semente de uma árvore esplendorosa que morre, mas da qual vai nascer outra árvore ainda maior. Essa semente foi ela: modesta, pequena, ignorada, sem deixar atrás de si outro rastro a não ser esse, mas deixando esse. E esse é o grande papel histórico dela, a grande missão dela”.

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